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segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

No Conselho de Ética, Segundos Podem Definir Futuro de Cunha


O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é investigado no Conselho de Ética - André Coelho / Agência O Globo

BRASÍLIA - A cena é inusitada: deputados suplentes do Conselho de Ética fazem fila na entrada do plenário e aguardam que a porta seja aberta. Em seguida, correm, disparam para marcar presença. Quem for mais rápido e digitar primeiro sua senha assegura o lugar para votar no colegiado, em substituição a algum titular ausente. Nessa disputa acirrada, os segundos estão definindo quem fica. Houve caso que foi preciso recorrer aos milésimos de segundos.

Se fosse uma corrida de cavalos, diria que o vencedor foi conhecido pelo "photochart", uma engenhoca que fotografa os animais no momento da chegada e põe fim à dúvida sobre quem ganhou. Essa peleia no Conselho de Ética é nova e motivada pelo investigado da hora: o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ali, ele tem amigos e inimigos.

Na sessão da última quarta-feira, os dois suplentes João Carlos Bacelar (PR-BA) - pró-Cunha - e Assis Carvalho (PT-PI) - anti-Cunha - marcaram presença exatamente no mesmo horário: às 13:00:22s. Foi preciso recorrer a um sistema de informática mais sofisticado, que, nos milésimos, deu a vitória a Bacelar (13:00:22:643), contra Carvalho (13:00:22:830).

Essas disputas se dão dentro dos blocos partidários, ou seja, entre partidos que, teoricamente, são alinhados. Na prática, não há isso. Em cada bloco há quem queira Cunha longe da presidência e do mandato, e há quem o defenda com unhas e dentes. 

Esse pega entre "aliados" tem gerado bate-boca, como o ocorrido entre Ônyx Lorenzoni (DEM-RS) - anti-Cunha - e Sérgio Moraes (PTB-RS), pró-Cunha.

— Estávamos na fila, conversando e avisei a ele, por duas vezes (que estava na sua frente). Mas ele deu uma de malandro furando a fila — disse Moraes sobre Lorenzoni, que rebateu:

— Não fulei fila nenhuma. Abriu para todo mundo.

De novo, Moraes:

— O senhor é um mentiroso de primeira linha.

Lorenzoni:

— Não posso ser chamado de mentiroso. Tenho minha biografia limpa.

Com tanta confusão gerada por esse critério de escolha, o comando do Conselho de Ética, desde a semana passada, acabou com a fila e a correria. Agora, estabelece-se um horário, os deputados ficam sentados e, após um sinal de um servidor do conselho, que levanta a mão, os suplentes digitam o mais rápido possível suas senhas.

Mas o novo sistema não evitou confusões. Na sessão da última quinta, Bacelar e Carvalho, de novo os dois, se enfrentaram no cronômetro. A vitória, dessa vez, foi de Carvalho, e por uma margem "larga", com diferença de 37 segundos. Proclamado o resultado, o derrotado reclamou com o presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), que o painel não estava ligado e que não tinha noção que horas marcou presença. Araújo mandou ele reclamar a Eduardo Cunha:

— Vossa excelência tem que se dirigir ao presidente da Casa, que é quem manda, que pode tudo.

Em outro bloco partidário, onde a disputa não é tão calorosa, a deputada suplente Eliziane Gama (Rede-MA) tem se dado bem. Ganha todas as disputas com o outro suplente Bebeto (PPS-BA).

— Já me disseram que sou tricampeã. Sou mais rápida no gatilho que ele — brinca Eliziane.

Mas no caso Cunha, até agora, o suplente estar como titular - que dá o direito ao voto - não tem sido de grande valia. Com a tropa de choque do presidente da Câmara obstruindo e usando todo tipo de manobra regimental para atrasar o processo, ocorreram apenas duas votações. Foi na quarta e se tratava de requerimentos de adiar por cinco e três sessões o caso do peemedebista. Mas foi pelo placar apertado de 11 a 10, que precisou do voto de minerva do presidente Araújo. Ou seja, um voto ali pode fazer toda a diferença. Pró ou contra Cunha.

Fonte: oglobo.com.br





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