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domingo, 27 de setembro de 2015

“Museu de grandes novidades?”

 
Samuel de Sá Barrêto
Poeta e Escritor
É mesmo difícil calar diante de tantas coisas correndo e ocorrendo ao nosso redor, e para arruinar ainda mais a situação, quem promove este tipo de coisa ainda quer que nós aceitemos tal avalanche com a maior tranquilidade do mundo. Para ser bem mais franco no que estou tentando falar, quero aqui relatar algo que por muito tempo foi combatido por muitos, que assim como eu (que sou somente mais um nesta longa caminhada de mais de cinco décadas), que sonhou imensamente com uma transformação e que esta transformação fosse algo capaz de adotar ferramentas democráticas e que as escolhas fossem livres e não mais existissem os donos de pequenos, médios e grandes currais e que os pensamentos socializados tivessem forças para a edificação de uma nova sociedade sem cercas e sem as ameaças pelas trocas de favores em grande escala de algum escalão que quisessem ser o capataz ou mesmo o vigia-mor de alguma gleba, e aqui e em todo canto do nosso Estado do Maranhão, não seria mais capaz de ser praticado este tipo de coisa, ledo engano. Pois mudou-se o comando, mas as práticas começam de maneira feroz e ferindo o exercício democrático que tanto foi suado para  se chegar aonde se chegou.

Não é preciso ficar assustado com este relato, mas quem quiser lembrar alguma coisa é só ir buscar como foi executado no passado, e como o Estado foi dividido para alguns “coronéis” que eram “donos” de regiões e que estes tinham obrigações com o “Marechal” maior e este por sua vez, tinha tanta habilidade que foi colocando em alguns setores dois ou três “coronéis” e estes podiam brigar entre si, mas nunca manchar o nome do chefão maior, e, assim o desmantelo da desigualdade social imperou no Maranhão por longos cinquenta anos. Só que agora, após uma vitória suada, algo de estranho começa a acontecer, pois o estilo mudou, mas a prática continua cruel e o que é pior, com a tutela de quem um dia lá num passado bem próximo, lutou por liberdade de uma ampla democracia.

É mesmo um “museu de grandes novidades” como poetizou o Cazuza, e o que é mais dolorido é visualizar: “vejo o futuro repetir o passado”- alguém perguntar, como assim? Ora, o cerco é frio e calculado. Explico: antes as campanhas e pré-campanhas se davam no seio das organizações partidárias e olha que não foi fácil se chegar a tanto, já que a gente vinha de uma infame ditadura.
 
Mas agora é diferente, e os partidos viraram fagulhas e foram perdendo cada um a sua solidez (salvo alguns somente, mas com grandes debilidades internas). Notem, é a velha partilha dos “coronéis” de volta e agora retirando a força da organização partidária que na atualidade está virando moeda de troca para futuros acordos e seja lá com quem diabo for, mas o importante é se ter o apoio assegurado.

Vou começar a contar como está ocorrendo a vil saga das “comissões provisórias”: Chega Y e diz que tem força dentro de sigla tal e que pode entregar esta sigla para quem quiser, fortalecendo os seus laços de vindouras “alianças” e com a bênção do “Marechal-mor”, além da carta branca dada por DB e SR. Já em outra situação e somente para provar as cinzas das diferenças “ideológicas” e bote diferenças safadas nisso, pois a briga será só do baixo clero e sem manchar o “Chefão”, pois o WJ entrega ou mesmo promete entregar uma legenda que foi o berço do cavalheiro da esperança, para o braço armado da antiga UDR que tanto massacrou os trabalhadores. Está meio confuso, mas é assim mesmo que está correndo e ocorrendo ao nosso redor a “transformação” que todos nós esperamos tanto, e o que é pior, assustando muitos e na base do toma lá da cá, com siglas perdendo as suas estruturas e respeito, e as lideranças do povo se acuando para os canalhas que são supostos “donos” das organizações partidárias. E para não dizer que estou sendo leviano, lembro a todos com mais uma frase do poeta Agenor, o nosso imortal Cazuza: “que os meus heróis morreram de overdose e os meus inimigos estão no poder”- é como diria o meu pai e poeta João Barrêto: “tem lixo que bebe e come/ e sabe assinar o nome/ mesmo que negue depois”- vou cuidar de organizar algo para não virar fagulha de partido de alguma comissão provisória.


Por: Samuel Barrêto (autor do livro Caderno de Passagem, EDUFMA 2013´).

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