Pe. Ribamar Gomes |
Sabemos que a critica a mito de forma sistemática
começa a surgir com o filosofo Platão, mas este não o desprezou por completo.
Chegou a afirmar que o mito era as vestes dos mistérios e que somente as
verdades pequenas, inferiores andavam nuas, já as verdades superiores tinham
como roupa os mitos. Podemos perceber que o mito se forma de indagações sobre
realidades que estão além do nosso cotidiano. O mito resiste aos esforços
modernos de reduzir a existência somente ao mundo físico-material. É uma
atividade humana natural, não destrói e nem ataca a razão, não embota o desejo
de conhecer a verdade cientifica e nem ofusca suas definições.
O nosso interesse aqui consiste na relação entre
palavra e mito. Vamos começar analisando a palavra pânico. Alguns autores
definem o pânico, não somente como sinônimo do medo, mas como algo maior. A
diferença consiste que no momento de pânico você não tem mais tempo para
raciocinar, o único que surge com todas suas forças é o impulso/instinto de sobrevivência.
Pânico é a reação quando temos a nossa frente o que nos causa terror, por isso,
o pânico é incontrolável.
Em grego, pânico é uma composta PANIKOS, PAN= semideus
grego e OIKOS = casa. Na mitologia grega pânico significava ter medo da casa do
semideus Pan. A atividade deste semideus era a de pastor de ovelhas. A parte
superior do seu corpo tinha forma humana e a inferior de cabra. E espantava a
todos que se aproximavam de sua casa, surgindo de surpresa junto a suas
vitimas, chegando até mesmo matar a algumas. Então, todos tinham medo de se
aproximar da casa (oikos) do semideus (Pan). Daqui vem a origem da palavra
pânico. Também essa é a razão do demônio no cristianismo está associado a
figura da cabra. É influencia da mitologia grega.
Os fenômenos naturais têm uma incrível capacidade de
assombrar o ser humano e, por isso, muitos foram transformados em mitos, como
por exemplo o Arco-íris que é um fenômeno cheio de beleza e sempre despertou a
imaginação do homem das diversas culturas. Cientificamente todos sabemos como
se forma o arco-íris, mas o aproximar-se a ele desde o ponto de vista mítico é
sempre mais atrativo. A palavra ARCO-ÍRIS, sua origem está relacionada com a
deusa íris. Iris ou eiro em grego significa aquele que leva uma mensagem (mensage
– eiro ). Iris vivia no Olimpo, era neta de um deus marítimo (Ponto) e de Gea a
deusa terra. Ela reunia em si conhecimentos do céu, da terra e do mar, tinha
que atravessar o céu, o mar para chegar a terra e transmitir aos homens a
mensagem de zeus. O arco-íris ocupa sempre estes três espaços: céu, agua e
terra. Em suas viagens íris, levava consigo um pote de ouro que jogava nas
nuvens produzindo chuva para a fertilização da terra. Sempre aparecia depois
das tormentas e com suas cores transmitia a mensagem de paz a humanidade. Desde da mitologia grega o arco-íris
representa a relação pacifica entre a humanidade e os deuses.
A outra palavra é PUTA, esta é a forma negativa que as
vezes definimos as mulheres que sobrevivem do sexo. Na mitologia grega, Demeter
é a deusa da agricultura. E seu amor materno lhe levou ao infra mundo em busca
de sua filha Perséfone. Rumo ao mundo subterrâneo foi acolhida e ajudada pelo
rei Elísios. Como forma de agradecimento Demeter ensinou a um dos filhos do rei
a arte da agricultura e com o mesmo teve uma filha, semideusa, por nome de
PUTA, a menina nasceu com o dom de cultivar e podar arvores, atividade que
aumentava e melhorava a produção dos frutos. A reputação da semideusa se
espalhou por toda a Grécia e os agricultores começaram a celebrar todos os anos
a festa da poda em homenagem a semideusa. Só que nestas festas o primeiro
convidado era Dionísio, o deus do vinho e do prazer sexual. O certo é que
Dionísio com sua corte não só incentivava a orgia nesta festa como também
exigia pagamento, foi a partir daqui que a semideusa Puta começou a ser
relacionada com o sexo e o dinheiro, mas na sua gêneses era uma semideusa da
agricultura. Em latim a palavra putabis,
significa podar. Esta semideusa sempre
permaneceu jovem, por isso que em Portugal a palavra puto significa menino. Em
latim temos o verbo “puto” que tem dois significados: podar e pensar. No poeta Virgílio
encontramos a expressão: “ me perdiit iste putus”, perdi a este menino.
Por: Padre Ribamar Gomes (Salamanca - Espanha)
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